Cartazes

Publicado  quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Foto: Wotaire Masaki
Designer: Woylle Masaki

Release de "MÁQUINA!"

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Um maquinário da incomunicabilidade humana em cena
Espetáculo “Máquina, a história de uma paixão sem limites”, do Grupo de Teatro Universitário da UFPA, vem revelar o automatismo das relações cotidianas

As máquinas entram em cena, e agora a todo vapor, para mostrar as relações humanas em todo seu absurdo quase maquinário. O Grupo de Teatro Universitário apresenta seu mais novo espetáculo, “Máquina: a história de uma paixão sem limites”, que se apresenta nos próximos sábado (23), às 19h32 e domingo (24) em duas apresentações, de manhã às 10h32 e a noite, às 19h32, sempre na sala 5 da Escola de Teatro e Dança da UFPA.

Como peças de uma grande fábrica, e funcionários desta, os atores do grupo encarnam problemas do cotidiano comum a todos nós e leva o público a também identificar-se como uma peça moldada para a sociedade, afinal, a grande maioria da população acorda diariamente para o seu emprego, igreja, sala de aula e outros aspectos da vida, onde por vezes não se percebe, mas se torna massa de manobra, quase sem vida própria. Aliás, a fábrica é na verdade um pretexto (ou pré-texto), pois por vezes ela é também um ambiente familiar, religioso ou mesmo escolar. A máquina, por sua vez, figura o automatismo do cotidiano humano, que sem piedade alguma engole todos à sua volta. Tudo isto com muito humor.

O trabalho ao longo deste ano sempre se encaixou como peças de uma máquina. Ives de Oliveira, diretor do espetáculo, afirma que “é impressionante como todo o material de cenas criado ‘conversava’ muito bem, com a idéia fundamental do trabalho, e com isso, temos uma apresentação não apenas de cena, mas de todo um leque de emoções vividas por todos nós durante todo este ano”, diz orgulhoso.

Como marca da pesquisa do Grupo de Teatro Universitário, a peça flerta com música o tempo inteiro, mas desta vez, canções que marcam o popular alienante das massas dão o tom em cena, interpretadas nesta temporada por Bárbara Gibson e Ed Amanajás.

O processo de criação do espetáculo seguiu sempre nos moldes de uma grande fábrica, que possui máquinas, empregados, gerentes mal-humorados, desmotivados e uma gama de relações líquidas a se dissolver. Os males do homem contemporâneo, especialmente no que tange a incomunicabilidade, perpassam por este maquinário.

A “Máquina” é um convite a (re) pensar as nossas relações humanas no absurdo que no fundo a tange. E com uma boa dose de risadas.

SERVIÇO: Espetáculo “Máquina: a história de uma paixão sem limites”, nos próximos sábado (23), às 19h32 e domingo (24) às 10h32 e 19h32, na Sala 5 da Escola de Teatro e Dança da UFPA (R. Jerônimo Pimentel, esquina com a R. Dom Romualdo de Seixas – Umarizal). Ingresso a R$9,99 a inteira e R$4,99 a meia, com direito a troco.

Texto: Leandro Oliveira (ASCOM – Grupo de Teatro Universitário)

ENGENDRANDO A ENGRENAGEM, O PROCESSO DE MONTAGEM DO ESPETÁCULO “MÁQUINA!”

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O Grupo de Teatro Universitário – GTU, projeto de extensão da Escola de Teatro e Dança da UFPA, coordenado pela professoras doutoras Olinda Charone e Wlad Lima, durante o ano de 2010 colocou em prática um subprojeto denominado “Novos Criadores de Cena”, onde selecionaria duas propostas de encenação que seriam dirigidas por integrantes do GTU. A partir desta seleção, o projeto “AEIONESCO: absurda, trágica, linguagem, humana”, coordenados pelos autores do presente artigo, e aplicado ao segmento do GTU noturno.

A base dramática do projeto estava fundamentada no teatro do absurdo, especificamente na poética de Eugène Ionesco. O objetivo do projeto era estabelecer, dentro de um processo de pesquisa e auto-descobertas, trocas vivenciais e simbólicas que pudessem resultar num repertório de textos, movimentos, sons e elementos plásticos que, uma vez organizados com base na relação estética do ‘absurdo’ e do ‘surrealismo’, possam fornecer um esquema de valores, idéias e recursos dramáticos presentes na poética de Ionesco.

A equipe coordenadora do projeto era numerosa, composta de vinte pessoas. Para facilitar o trabalho, foi assumida uma característica burocrática e hierárquica da equipe, onde dividimos em equipes de trabalho (dramaturgia, exercícios teatrais, preparação corporal, pesquisa e registro, música, figurino, visagismo, cenografia, iluminação e vídeo) onde cada integrante da equipe de trabalho se reportava ao coordenador de sua equipe, esses por sua vez eram subordinados aos diretores de núcleos (direção de elenco, direção de palco, direção de arte, direção musical e direção de vídeo), e esses por fim se dirigiam ao diretor geral. Dentro dessa hierarquia, foram delegadas tarefas, em que cada equipe deveria propor atividades para o elenco, aplicá-las e então conferir os resultados e discuti-lo como poderiam acrescentar à proposta do projeto.

O resultado esperado era um trabalho, ao qual foi chamado de “instalação cênica”. Um produto artístico que abranja elementos de diversas linguagens artísticas inseridas no projeto, mas que compartilhem um mesmo espaço criativo, onde atores, objetos e sons não apenas se mostrem, mas sofram intervenções entre si, se alterem e interajam modificando-se mutuamente no decorrer de todo processo. A partir disso foi lançada a proposta do ator-criador, ou seja, os atores depois de passar por uma série de exercícios, jogos e atividades, construiriam o espetáculo a partir do que vivenciaram durante o processo.

No período de sete meses, em um primeiro momento foram trabalhados junto ao elenco diversos exercícios teatrais introdutórios para equivaler todos os integrantes, uma vez que muitos deles nunca haviam feito teatros, só em seguida foram trabalhados os exercícios específicos da vertente teatral aqui mencionada. Durante o primeiro mês de ensaio, enquanto ainda estava sendo trabalhados os exercícios básicos, foi decido não revelar a proposta de trabalho e fazê-los trabalhar “no escuro”, e no decorrer dessa experiência, entender o que poderia acontecer. Então a partir de um dos exercícios básicos, na qual os atores deveriam entrar cada um no centro do palco e fazer gestos e sons de máquina, percebeu-se que recorrentemente os movimentos que os atores realizaram naquele jogo repetiam-se em outras atividades: estava descoberto e espetáculo.

A idéia da máquina foi anexada à estrutura hierárquica em que se dividia a equipe coordenadora do projeto, e logo o espetáculo havia ganhado um corpo: uma fábrica. Lugar onde se ver andando juntos o maquinário e administrativo. Tendo em vista esse pressuposto, buscou-se na abordagem da administração científica de Taylor e na abordagem da administração clássica de Fayol, bases para construção do roteiro. Para o trabalho de interpretação, os ensaios do GTU seguiram o padrão de uma empresa, nos quais os atores eram tratados como trabalhadores subordinados aos comandados dos gerentes, os então coordenadores do grupo, e estes, por último, seguiam as ordens de uma chefia, isto é, a direção do grupo; fazendo com que o ator já vivesse na “pele” o que o seu personagem viveria na trama.

O resultado final é o espetáculo batizado “MÁQUINA! A história de uma paixão sem limites”, onde é retratado o cotidiano de uma fábrica, mostrando seus funcionários trabalhando exaustivamente em prol do lucro dos seus patrões, o casal Durand. A imagem da fábrica é na verdade só um pré-texto, pois na verdade ela simboliza o automatismo do cotidiano humano, que decorre dos males do homem contemporâneo, como a perda da sensibilidade pela rotina, aceitação de rótulos e idéias prontas e compradas “(...) que transformam progressivamente nossas sociedades de massa em coleções de autômatos de controle centralizado” (ESSLIN, 1968), o que provoca a temível incomunicabilidade humana, tão criticada por Ionesco.

*Resumo apresentado para o II Seminário de Pesquisa em Teatro da Escoa de Teatro e Dança da UFPA