O difícil trabalho de montar uma peça...

Publicado  quarta-feira, 14 de abril de 2010

Gosto cada vez mais do trabalho do GTU. Quando o projeto ainda estava no papel e dentro de uma gaveta de metal frio, isso a mais de um ano atrás, sempre tinha muita curiosidade de ver como isso se daria fora dele. E ainda bem o GTU proporciou essa possibilidade de faze-lo ganhar vida. Tenho muitas e muitas idéias de como fazer isso ir para o palco, mas estou me segurando e deixando para que o grupo encontrei "sozinho" o caminho para fazer essa transposição. Imagino que esse seja o maior desafio, tentar "anular" suas idéias e se manter atento e receptivo as demais idéias que vão surgindo. Assim como outros membros da equipe coordenadora, já tenho diversas idéias de cena, e o espetáculo quase pronto na minha mente. Mas acredito que não seja esse o nosso ideal, e sim deixar a coisa fluir por si só, dando-lhe apenas algumas sugestões e indicações. Ionesco, no prefácio de "Le Possédées" faz uma descrição em tom exagerado e jocoso mas muito convicente, do seu método de trabalho: "É claro que é difícil escrever uma peça; exige esforço físico considerável. É necessário que o autor se levante, o que é cansativo, e que se sente, justamente quando começa a acostumar-se a idéia de estar levantado; é preciso tomar uma pena, que é pesada, pegar papel, que nunca se encontra, sentar-se a uma mesa, que freqüêntemente quebra ao peso dos cotovelos... Por outro lado, é facílimo compor uma peça sem escrevê-la. É fácil imaginá-la, sonhá-la, deitado num sofá, meio adormecido e meio acordado. É só o autor se entregar, sem mover-se, sem se controlar. Um personagem aparece, não se sabe de onde; e chama os outros. O primeiro começa a falar, a primeira resposta vem, foi dada a primeira nota, o resto vem automaticamente. Fica-se passivo, escuta-se, observa-se o que se passa na tela interior..."

De um modo geral, tenho gostado bastante dos rumos que o grupo está tomando. Tenho ficado muito animado com o resultados dos exercícios, que de forma tão natural, o elenco está dando pistas e idéias geniais para solucionar a nossa  instalação cênica. No último encontro, aconteceu um exercício proposto pela equipe de dramaturgia em que os atores formaram uma escola. A imagem em si já dizia tanta coisa, tantas leituras, fiquei com isso na cabeça, que nesse exato momento fervilha de idéias. Ionesco enquanto escritor é altamente intuitivo, e considera a espotaneidade como um fator criador importante, nas palavras do próprio: "não tenho idéia nenhuma quando antes de escrever uma peça; tenho-as quando acabo de escrever a peça ou enquanto não estou escrevendo nada. Creio que a criação artística é espotânea; a minha, pelo menos é". Acho que essa espotaneidade é que deve permear o nosso processo de criação. Antes da gente jogar qualquer idéia, é necessário somente observar o que o grupo está nos "dizendo". Porém compreendo que um "método" assim, a primeira vista, parece sem sentido. Mas acho, assim como Ionesco, que isso não significa a falta de sentido ou sem significação, pois muito pelo contrário, o trabalho da imaginação espontânea é um processo cognitivo, uma exploração, e se utilizando mais uma vez das palavras de Ionesco, exemplifico isso: "A fantasia é reveladora; é um verdadeiro método de cognição; tudo o que é imaginado é verdadeiro; nada é verdadeiro se não for imaginado."

1 comentários:

Bela do Lago disse...

De volta do Marajo.
Lendo-te já.
Com as luzes dos encantados
com os molhados dos rios
com a força da Sucuriju
Cheguei
pronta sempre
disposta já
Viva o museu do marajó
viva o GTU
dIONÍSIO RIBEIRINHO
PRETO, BRANCO, VERMELHO E ÍNDIO
tERÇA NO gtu, nos falamos!
Belas tuas reflexões.
Bela do Lago.